Não consigo tirar da cabeça um estudo de psicologia divulgado nos Estados Unidos. Ele demonstra como um casamento infeliz é capaz de destruir a saúde. A imprensa deu pouca atenção ao trabalho apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Psicossomática, que suscita uma discussão da maior importância a meu ver. Como qualquer pessoa, somos esponjas do mundo. Captamos a realidade e somos tocados por ela a partir de referências e experiências muito pessoais.
Talvez por isso eu tenha ficado tão interessada na pesquisa realizada pela psicóloga Nancy Henry, da Universidade de Utah. Ela recrutou 276 casais com idades entre 40 e 70 anos. Eram uniões duradouras – de 20 anos, em média. Nancy investigou a qualidade desses casamentos a partir de parâmetros como suporte mútuo, envolvimento emocional e frequência de desentendimentos sobre sexo, filhos e dinheiro. Nancy descobriu que uniões desgastadas podem provocar depressão tanto nas mulheres quanto nos homens. Mas as mulheres que vivem casamentos infelizes parecem estar mais sujeitas a desenvolver sintomas fisiológicos da chamada síndrome metabólica.
Por que as mulheres sofrem mais? "As mulheres parecem basear o conceito que elas têm de si mesmas na qualidade das relações que elas vivem. Talvez por isso um casamento ruim tenha um impacto tão grande na saúde física e emocional das mulheres", diz Nancy.
O médico Raul D. Santos, diretor da unidade clínica de lípides do Instituto do Coração, em São Paulo, diz que vários estudos epidemiológicos associam a depressão e a raiva com a síndrome metabólica. O stress aumenta as descargas do hormônio cortisol. Essa substância contribui para o acúmulo de gordura abdominal, aumento da pressão arterial e da resistência à insulina (o que desencadeia o diabetes). Há dúvidas na literatura médica sobre se as mulheres realmente sofrem mais danos. O cardiologista Marcelo Assad, do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio, tem a mesma opinião. "A depressão é indiscutivelmente a doença do século. A manutenção de um relacionamento falido perpetua um ciclo de stress, diminuição da autoestima e falta de perspectivas", afirma Assad.
A infelicidade deveria ser tão combatida quanto o colesterol. Mas essa decisão só pode partir de quem sofre.
Quem sofre mais nos casamentos falidos: o homem ou a mulher? Você conhece alguém que adoeceu por essa razão?
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